Queimando Filme

O crítico de cinema Cléber Eduardo usa a primeira pessoa

Monday, March 20, 2006

Falcão 2 - A Visão Global



Tomei uma bronca afetiva de minha namorada, Ilana Feldman, por não ter enfocado o mais importante de Falcão: o contexto no qual foi colocado dentro da Globo, com intervalos, e, ao final, com comentários de "intelectuais globais" (Manoel Carlos, Gloria Perez, especialmente). Com a palavra, portanto, Ilana Feldman:

"Desde as chamadas, durante a semana, para Falcão - meninos do tráfico, a ambiguidade em relação à apropriação das imagens de MV Bill e Celso Athayde pela estrutura de exibição da Globo já estava posta. Como diria o famoso rap de Bill, agora é um canal de TV, que, legitimado, está "traficando informação", pois todas as imagens foram literalmente negociadas - embora essa negociação não seja tematizada, o que é uma perda para a estrutura do documentário. Neste tráfico de informação, matéria-prima do telejornalismo, as chamadas da Globo, utilizando a clássica locução do narrador dos acontecimentos "fantásticos" - o narrador oficial do programa homônimo -, estavam articuladas à imagens defocadas, noturnas e captadas em velocidade, do interior de automóveis, como num possível clip do rapper. Para completar o ciclo de exibição, pautado por uma organização cinemática da realidade, foi chamado um time de comentaristas/"intelectuais"- Gloria Perez, Manuel Carlos, Cacá Diegues, Camila Pitanga e Luiz Fernando Veríssimo - todos, curiosamente, ficcionistas. Nenhum sociólogo, nenhum secretário de secretário de segurança, nenhum legislador. A questão dos meninos do tráfico é uma questão, na emissora, de novelistas, cronista, atriz e cineasta. Uma questão da ficção. A Globo, antes autodenominada uma "fábrica produtora de sonhos" e hoje uma "usina de realidade", explicita nesse gesto que a realidade, no âmbito do espetáculo massivo, só pode ser compreendida se organizada por procedimentos ficcionais, princípios do movimento e da articulação estética entre imagem e som. Nesse sentido, o que é dito pelo time - cuja edição privilegiou, no geral, frases de uma incrível resignação - é ainda menos impactante do que a escolha de suas presenças. O único pensamento, e contraponto crítico, vem de Cacá Diegues: "não são esses meninos o problema do Brasil, é o Brasil o problema desses meninos".

1 Comments:

At 11:41 AM, Blogger frinch@ said...

Muito bem observado, Ilaninha, e juro que não é um comentário motivado pelo corporativismo. Alba Zaluar que o diga - como já disse a esta altura. Mas o efeito foi bom e, infelizmente, a sociologia não tem causado efeitos muito maiores que a implantação do carreirismo acadêmico na espinha dos idealistas. O fundamental, neste caso, é dito, e para se chegar ao fundamento não é preciso grande esforço intelectual. Beijos, maninha.

 

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